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Para Onde Caminha o Urbanismo no Vale do Taquari: Planejamento Resiliente para Cidades Inteligentes e Sustentáveis

Se imaginarmos os dias atuais projetados em uma linha do tempo, é inegável que estamos vivendo em um momento "pós-apocalíptico", apropriando-nos de um termo comum à indústria cinematográfica. Mas, a partir disso, para onde vamos?

Foto do autor Matheus Luis Welter Matheus Luis Welter
Tempo de leitura: 14 minutos

Se imaginarmos os dias atuais projetados em uma linha do tempo, é inegável que estamos vivendo em um momento "pós-apocalíptico", apropriando-nos de um termo comum à indústria cinematográfica. Mas, a partir disso, para onde vamos? Quais são as opções que temos? Como podemos pensar de forma realmente inovadora, fora da caixa? Nesse contexto, surge a reflexão: Para Onde Caminha o Urbanismo no Vale do Taquari: Planejamento Resiliente para Cidades Inteligentes e Sustentáveis. Esse questionamento nos impulsiona a reavaliar o presente e projetar um futuro onde o urbanismo se torna uma ferramenta essencial para a construção de cidades mais resilientes, inteligentes e adaptadas às novas realidades.


Nas áreas de engenharia e arquitetura, muitas vezes a inspiração é buscada em referenciais — projetos pensados e executados, de onde se podem pinçar detalhes e, a partir disso, construir algo novo, que, em breve, pode servir de referência para outro pensador, planejador ou situação. Atualmente, olhar para as soluções adotadas em diferentes partes do mundo, onde ocorreram eventos climáticos extremos semelhantes aos nossos, considerando suas próprias dimensões e características, pode ser muito útil. Tóquio, com suas cisternas impressionantes, ou Blumenau, com suas barragens de cheias, são exemplos de cidades que tomaram medidas estruturantes para atenuar os efeitos das águas em seus ambientes urbanos consolidados. Medidas estruturantes são caras, mas necessárias. Porém, em paralelo, como estamos desenvolvendo o urbanismo em nossas cidades, nas regiões livres dos eventos mais severos? Como podemos transformar, através do planejamento urbano, o futuro da expansão das nossas cidades? Temos que pensar juntos.

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A urbanização de novas regiões sempre provoca uma significativa alteração no uso da gleba em que se está lançando um novo empreendimento. Lavouras que até então eram ocupadas por culturas anuais passam a abrigar uma população residente que constroi seu lar, seus negócios, dando vida urbana a uma nova região. Mas, muito além do que está estipulado nas legislações urbanísticas e ambientais, é preciso olhar com atenção para tudo aquilo que passará a ser de uso público e quais serão os impactos dessa alteração de uso em seu entorno. O que hoje pode parecer um simples plano de urbanização é justamente o que formará a cidade do futuro, onde as pessoas irão morar, trabalhar, conviver e se locomover.


A legislação brasileira que rege os processos de urbanização exige que 35% da dimensão total da gleba em estudo seja doada à municipalidade para a formação das infraestruturas urbanas necessárias, como o sistema viário de circulação (ruas), áreas verdes, de recreação e lazer (praças, parques), áreas destinadas à construção futura de edificações de uso institucional (escolas, postos de saúde) e equipamentos urbanos (reservatórios, estações de tratamento de efluentes). Considerando que um terço do imóvel servirá aos interesses e usos comuns, como transformar esse “custo” em um valor agregado aos lotes a serem criados pelo projeto?


Criar áreas públicas planejadas que possam ser imediatamente aproveitadas pela comunidade, e onde ela realmente tenha condições de se apropriar desses espaços, é uma “via de mão dupla”. É consenso entre os profissionais de vendas do ramo imobiliário que a localização é um fator determinante na concretização de um negócio. Lotes próximos a áreas verdes são mais desejáveis e valorizados em comparação àqueles situados em ambientes sem grandes atrativos no entorno. Portanto, o “custo” das áreas de destinação pública precisa ser revertido através de um planejamento inteligente, onde esses espaços agreguem valor ao empreendimento e, ao mesmo tempo, tenham um uso social efetivo após sua conclusão.

Estamos diante de uma solução em que todos se beneficiam: os proprietários e investidores, com a valorização do metro quadrado de venda dos lotes; os adquirentes, que poderão morar ou trabalhar em um ambiente urbano agradável, caminhável e bem distribuído; o poder público, que recebe áreas públicas já prontas para uso sem precisar investir na implantação; e, principalmente, toda a comunidade, seja local ou regional, que passa a ter mais opções de destinos para descanso, contemplação, interação e lazer. Esse objetivo de beneficiar todos os envolvidos pode ser alcançado através de um planejamento de urbanização inteligente, convergindo as obrigações legais com os benefícios de um bom desenvolvimento das áreas públicas.


No sistema viário, que podemos chamar convenientemente de sistema de circulação, pois deve priorizar não apenas a mobilidade de veículos, mas principalmente a de pedestres e ciclistas, desenvolver calçadas generosas pode ser uma boa decisão quando pensamos nas cidades que queremos deixar para o futuro. Calçadas com trechos pavimentados e outros permeáveis, onde podem ser desenvolvidos “jardins de chuva” e o plantio da arborização urbana, vias dimensionadas para absorver o transporte público, ciclovias e caminhos agradáveis para pedestres, tudo isso valoriza o investimento e contribui para um ambiente urbano mais sustentável e convidativo. Os adquirentes dos imóveis ao redor acabam sendo motivados por esse ambiente mais agradável, o que influencia na forma como irão planejar suas edificações.

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Quanto às áreas verdes e de recreação, essas são provavelmente as que um projeto de urbanização planejado pode reverter com mais significado o “custo” das áreas públicas na valorização dos imóveis criados. Desde praças bem dimensionadas até áreas de preservação de vegetação nativa, a disposição dessas áreas dentro do projeto influencia significativamente o valor agregado dos imóveis e a liquidez do empreendimento. Largos canteiros de avenidas que possam receber espaços de estar e convivência, centros de grandes rótulas onde serão desenvolvidos espaços de lazer, áreas de preservação ambiental com bancos e pérgolas destinados à contemplação e interação do homem com a natureza, tornam-se as “cerejas do bolo” dos empreendimentos, tão logo sejam apropriados pela comunidade.


As áreas destinadas aos equipamentos urbanos também podem e devem ser transformadas em elementos que agregam valor ao local. A criação de bacias de amortecimento para águas pluviais é uma necessidade evidente em todos os projetos de urbanização, dada a inquestionável mudança climática que estamos vivenciando. Esses elementos são lagos criados para controlar e reduzir os picos de vazão que as chuvas ocasionam nas regiões mais baixas, minimizando os efeitos dos alagamentos urbanos. Imagine um lago com uma pista de caminhada e ciclovia em seu entorno, ao lado de um gramado sombreado por belas árvores. Estaremos fomentando o convívio social saudável e, quem sabe, criando um potencial para um comércio de venda de lanches, alimentos saudáveis, food trucks e outras atividades, após a ocupação deste espaço pelas pessoas. Estaremos, de forma inteligente, resolvendo um problema como o impacto da urbanização nos alagamentos urbanos, ao mesmo tempo em que criamos um novo local de uso público bonito e convidativo.


Concluímos que, muito além das medidas e obras estruturantes necessárias para minimizar os impactos das cheias nas áreas urbanas consolidadas e nos centros históricos, a expansão e movimentação das pessoas para novos ambientes a serem urbanizados, seja para moradia, trabalho ou ambos, precisa ser planejada e sustentável. Essa é uma responsabilidade que recai sobre nós, técnicos da área, mas também sobre os investidores, o poder público, os legisladores e a comunidade como um todo. Com esse olhar, que molda cidades resilientes, um futuro muito melhor nos aguarda.


Autor: Matheus Luis Welter, Engenheiro Civil, com atuação no desenvolvimento de projetos de urbanização planejada

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